Não foi a demografia, o furacão Sandy, a ínfima melhora na economia, o carisma, a retórica e sua segurança pessoal: Barack Obama foi reeleito porque ofereceu uma mensagem sedutora, clara, embora moderada. E com ela desbaratou um dos mais perversos e perigosos inimigos internos que a Revolução Americana já enfrentou, desde a sua vitória em 1774: o Tea Party, versão 2.0.

E o Tea Party foi o maior responsável pela derrota de Mitt Romney: se o candidato republicano não tivesse capitulado à histeria da ala mais radical do partido, teria conseguido persuadir os setores conservadores mais esclarecidos a reagir à tentação totalitária que ameaçava tomar conta do país.

A prova deste racha no conservadorismo mundial está no endosso inequívoco oferecido a Obama pelas duas maiores publicações globais de economia e negócios: o semanário “The Economist” com 169 anos de existência e o famoso diário em papel cor-de-salmão,  “Financial Times”, o caçula da família Pearson, com 124.

Estão longe do conceito de “progressistas”, ambos são adeptos intransigentes do capitalismo e do liberalismo econômico. Porém jamais subtraíram dos leitores as trapalhadas e trapaças cometidas nos altos escalões das empresas do mercado de capitais que jogaram os EUA na atual recessão. Não cobraram de Obama as promessas não cumpridas da primeira campanha porque, em 2008, em seguida a sua espetacular vitória, desabou o castelo de areia construído pelos economistas do grupo Bush. Ambos sabem que suas intervenções reguladoras foram decisivas para evitar a débâcle. O Estado que Obama defende não é um Leviatã desumano, seu combustível é a responsabilidade social.

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, dono de um dos veículos jornalísticos mais importantes da área econômica, a Bloomberg News, também endossou a candidatura de Obama (era republicano, depois entrou no minigrupo dos independentes). Seus motivos: o empenho do presidente na questão ambiental que o Tea Party e os republicanos menos esclarecidos e mais religiosos teimam em ignorar. Sandy acordou-os.

Barack Obama não é socialista e sequer social-democrata, assim como foi classificado como pós-racial também pode ser considerado pós-ideológico. Herdeiro da tolerância iluminista, adversário das segregações e supremacias, razão pela qual se tornou idolatrado pelas minorias.

Quer acabar com a miséria no país mais rico do mundo, quer que os mais influentes paguem mais impostos do que os remediados, no que é apoiado com entusiasmo pelo bilionário Warren Buffet.

Membro do Trinity United Chuch of Christ de Chicago jamais se preocupou com religião: seu pai, economista queniano, muçulmano não observante, sua mãe, antropóloga americana, ateísta. Obama menciona Deus porém não abusa, é capaz de jurar com a mão na Bíblia, mas incapaz de profanar a essência secular do sistema democrático.

Esta tolerância, abertura e transparência transformam-se naturalmente em vontade de acertar. Ela é que  empolga. Seu carisma é a sua sinceridade. Não embroma, não engana, trata as massas e os interlocutores como seres inteligentes que, por sua vez, respondem da mesma maneira. Perdeu o primeiro debate com Mitt Romney e ganhou os demais porque  sua entonação é a de quem busca a verdade.

Graças a isso, converteu-se no norte-americano mais querido no mundo. A fama e a celebração desta vez encontraram um conjunto de valores que vale a pena venerar.